Uma releitura do homem cordial
23/09/2012 19:29
Fábio Oliveira Santos[1]
Já na gênese da colonização brasileira percebe-se que houve uma tentativa de escravização, primeiro foi a tentativa de domesticação dos índios, fadado desde o início ao fracasso, pois o índio brasileiro desconhecia o trabalho e não via coerência nesse tipo de atividade. Percebe-se que mesmo hoje, ainda se utilizam práticas de domínio que os portugueses utilizavam.
À segunda tentativa, com mais proporção e progresso do ideal de domesticação, foi sobre a escravização dos negros trazidos da África, projeto que se adequou aos interesses portugueses, uma vez que o negro já tinha uma ligação, porém de uma perspectiva diferente, sobre o trabalho escravo.
O sucesso deu-se ao fato que os africanos já conheciam a escravidão, porém sob a perspectiva de guerra, onde ficava implícito que o derrotado trabalharia por determinado período para os vencedores. Essa cultura africana foi apropriada ou desvirtuada, diga-se dessa maneira, para o interesse português. Abrem-se parênteses para observar que a igreja católica auxiliava na construção do discurso de dominação, dizia-se que na terra não há perdão, mas no céu o indivíduo será perdoado. Com esse argumento, legitimava-se o discurso de dominação portuguesa.
Através desses subsídios ideológicos, financiavam-se guerras entre os diversos povos africanos, os derrotados eram presos e enviados ao Brasil e a outras colônias. Chegados ao destino, o escravo, impossibilitado de retornar as suas origens, era obrigado a permanecer no país e a suportar o trabalho escravo por toda sua vida.
No entanto, esse processo não aconteceu pacificamente, diversos foram os meios de resistências, uma delas foi acatar às ordens, tornar-se cordial, e quando fosse possível, fugir para a liberdade.De acordo com Holanda (2004), o homem cordial é reminiscência desse passado. Criado sob a tutela da família, tanto a criança do senhor quanto a criança negra, eram criados e ensinados a favorecer em grande parte a família, essa educação não permanecia somente nas casas grandes ou senzalas, ao contrário, tomavam proporções enormes e por vezes incontroláveis. Ao passo que não se separava o que é bem público do que é bem privado. Tudo pertencia à família.
O homem cordial utilizava-se dessa cordialidade, também como meio de obter vantagens. Mesmo com a abolição da escravatura, com outro sistema econômico, o capitalismo, no sentido de produção em massa e a burocratização do sistema de governo proposta por Max Weber, o homem cordial persistiu e adaptou-se às novas demandas, porém ainda permanece com o viés de proteção particular, obtenção de vantagem para si e para as pessoas que fazem parte da família.
Considerações Finais.
A herança cultural, a burocracia, os mecanismos econômicos, as forças políticas e as diversas forças antagônicas envolvidas trabalham de acordo com a lógica cultural que, em algum sentido, foram herdadas desde o descobrimento do Brasil, daí o pensamento, a estrutura e a ação serem pautadas todos sob o mesmo viés, o homem cordial.
Bibliografia.
HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil; 26º edição – São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
[1] Professor de Língua Portuguesa desta casa, Estudante de direito, Pesquisador em Administração Pública e Conselheiro da APEOESP – SUBSEDE Osasco. Coordenador das revistas: Revista Eletrônica Peralta – REP e Pesquisa e Direito. Nascido em São Paulo e Morador de Osasco desde a infância. Jamais ausentei-me dessa região.
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